quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A Carta


Excelências

Venho comunicar-vos que a chanceler decidiu arrancar já com a 3ª fase do plano de mexicanização do Sul. A chanceler considerou existirem condições invulgarmente favoráveis em Portugal que é preciso aproveitar de imediato, tendo dado a 2ª fase do plano por concluída, atendendo a que o abaixamento dos custos laborais já conseguido é excelente e suficiente, conforme anunciou no seu discurso de ontem.

As condições em Portugal são actualmente ideais, pois o povo aceita tudo sem reagir, o PM é completamente submisso, o PR está isolado e nunca fará nada que belisque os seus interesses pessoais imediatos.

Ao abrigo do previsto para a 3ª fase, foi já acordado com o Ministro da Educação português o nosso controlo sobre o ensino público, que irá formar o pessoal necessário às nossas empresas, as quais beneficiarão de períodos longos de estágio suportados pelo ME português, ou seja, mão-de-obra paga pelo Estado Português. Habilidosamente, o ministro anunciou a adopção do plano de ensino “dual” alemão. Ninguém reagiu.

Segue-se a instalação de filiais de empresas alemãs em Portugal. Isto será apresentado como o esforço alemão para o desenvolvimento económico de Portugal e a primeira acção será a visita da Chanceler a Portugal acompanhada da equipa seleccionada para a ocupação. Garantirá mão-de-obra muito barata em Portugal, que começaremos a trazer para a Alemanha a título de “circulação de trabalhadores”, torneando a resistência dos nossos sindicatos. Actualmente estamos a importar especialistas de Portugal a metade do preço praticado na Alemanha mas por este processo vamos reduzir para 1/5 o seu custo. Recordo que o objectivo final é reduzir a 1/10 o custo do trabalho, que será atingido através do processo de redução progressiva de salários que se retomará na quarta fase, uma vez assegurado o fim de qualquer possibilidade de autonomia. Já lançamos um movimento a apelar à abstenção e isso dará o pretexto para ocuparmos politicamente o país, uma vez que os portugueses irão dessa forma declarar que não querem ser governados por portugueses.

Há um único aspecto que temos de manter controlado: o Ministro das Finanças português, Gaspar, é um agente do FMI e é muito mais perigoso do que pensávamos. Combinou com os chineses uma privatização fictícia da EDP que nos obrigou a suspender o plano de privatizações; só podemos retomar o plano depois de corrermos com ele, pois aplicará um golpe semelhante em todas as privatizações e nem uma virá para as nossas mãos. Já avisámos que as privatizações não vão contar para as contas do deficit, a fim de suspender o processo.

Além disso, há um movimento de bastidores que pretende que o PR nomeie um governo de iniciativa presidencial com o Gaspar em Primeiro-Ministro. Em caso algum podemos consentir nisso ou ele tornar-se-á um novo Salazar e boicotará todos os nossos planos. Não estamos muito preocupados porque o PR deles nunca faria isso, sabendo como nós o podemos prejudicar. À cautela, vamos aproveitar o próximo buraco orçamental para responsabilizar o Gaspar e propiciar a sua remodelação. Aproveitaremos para correr também com o Ministro da Saúde que parece ser competente demais e essas pessoas tendem a tornar-se perigosas.

Quanto à oposição política: como prevíamos, sem o Sócrates o PS não existe, limita-se a fingir que existe; e a esquerda é marginal. A direita está controlada, não representa qualquer ameaça.

Face a estes bons desenvolvimentos da situação, venho solicitar o pagamento acordado para a 2ª fase; é certo que esta ainda não está concluída nos outros países, mas Portugal irá funcionar como locomotiva e a instalação de empresas alemãs em Portugal irá levar os outros, face aos seus crescentes e insolúveis problemas de emprego, a aderir à 3ª fase.

Com os melhores cumprimentos,

Dr. Jordan

(publicado também aqui)

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