quinta-feira, 31 de maio de 2012

Daquilo que agora já toda a gente sabe, mas de que muito poucos quiseram saber



Sem comentários, transcrevo integralmente:


Numa altura em que as parcerias público-privadas (PPP) têm estado a ser passadas a pente fino numa comissão parlamentar de inquérito, o Tribunal de Contas divulga um relatório, segundo o qual os contratos que levaram à introdução de portagens nas SCUT é lesivo para o Estado. O deputado do PSD Mendes Bota considera as conclusões são muito graves. 



“Achamos que é de uma gravidade extrema. Quando existe uma queixa dos próprios juízes de que houve sonegação de informação relevante para a concessão dos seus vistos em relação a um conjunto de contratações que o Estado fez, pensamos que tem consequências, nomeadamente no âmbito criminal”, afirma o membro da comissão parlamentar de inquérito às PPP. 


“Daí que também questionámos o senhor Procurador-geral da República para saber se, face às notícias que estavam a sair, em relação a esse relatório do Tribunal de Contas, iria tomar alguma iniciativa, no sentido de promover inquéritos e avançar com o processo judicial, se fosse caso disso”, adianta à Renascença. 

É de dinheiro dos contribuintes que se trata. O Tribunal de Contas confirma que o Estado continua a pagar às concessionárias, mesmo depois do fim das SCUT. As concessionárias e os bancos são, aliás, os únicos beneficiários destes contratos. 

Mais: as negociações levadas a cabo pelo anterior Governo, que incluíram contratos paralelos, aumentaram as despesas com as estradas em 705 milhões de euros. 

A Secretaria de Estado das Obras Públicas está analisar o relatório do Tribunal de Contas e reserva comentários para mais tarde. A anterior equipa socialista do Ministério permanece, por seu lado, incontactável. 

Quanto ao actual Governo, Mendes Bota defende que está a tentar resolver o problema gerado pelo anterior Executivo. 

“Há apenas parcerias público-privadas do sector ferroviário e duas do sector rodoviário que não estão em renegociação, portanto, o Governo está a fazer o que lhe compete, impondo condições de um equilíbrio de repartição dos sacrifícios em Portugal. O Governo, nessa matéria, não só não tem responsabilidade directa, como está a tentar resolver o problema, grave”, sustenta. 

ACP quer relatório analisado com queixa-crime 
O Automóvel Clube de Portugal vai anexar o relatório do Tribunal de Contas à queixa-crime que apresentou contra Paulo Campos, Mário Lino e António Mendonça, da anterior equipa do Ministério das Obra Públicas. 

“Não foi em vão que o ACP esteve 18 meses a investigar todo este processo e que apresentou a queixa-crime no DIAP, contra os três ex-governantes, e portanto não me espanta rigorosamente nada que tenha aparecido mais esta confusão. Calculo que esse relatório seja importantíssimo para juntar ao processo, porque isto tem que ser tudo deslindado até ao último momento”, afirma à Renascença o presidente do ACP, Carlos Barbosa, que acusa os antigos ministros de gestão danosa do dinheiro dos contribuintes.

Utentes defendem incriminação de responsáveis 
O porta-voz da Comissão de Utentes das SCUT do Norte Litoral, Grande Porto e Costa de Prata defende que "se houver matéria, deve-se incriminar os responsáveis" pela introdução de portagens nas antigas vias sem custos para o utilizador. 

José Rui Ferreira considera que se devem "tirar consequências deste relatório. Se se apurar que houve abuso de utilização de determinadas funções e cargos para favorecer este ou aquele de forma ilegítima, as responsabilidades devem ser apuradas", afirmou à agência Lusa. 

O porta-voz dos utentes sublinha que "o processo de introdução de portagens confirmou ser muito oneroso quer para os orçamentos familiares quer para a situação económica e financeira das empresas". 

"Isto foi pretexto para que se tenham feito grandes negócios. A questão das Parcerias Público Privadas é provavelmente um dos negócios que muito deve ter contribuído para a crise que se está a viver", destacou.



Em adenda:


Avelino Jesus disse, esta manhã, no Parlamento, que os contratos das Parcerias Público-Privadas (PPP) são um “descalabro completo”, por não terem limites aos gastos. 



O professor do Instituto Superior Tecnico - que se demitiu do grupo de trabalho que deveria analisar as parcerias e avaliar o seu impacto nas contas públicas - está a ser ouvido pela comissão de inquérito às PPP no sector ferro-rodoviário. 


“A forma como os contratos estão elaborados permite um descalabro completo nos valores que podem vir a ser apresentados no futuro. Os contratos são muito abertos, são o resultado da negociação entre o poder político e as empresas que estão no terreno e, quando digo que podem vir a ser acrescentados 20% a 30%, quero dizer que não temos maneira de fazer um cálculo rigoroso, porque, sendo contratos abertos, permitem um empolamento quase indefinido”, explicou. 

Avelino Jesus justificou, ainda, a demissão do grupo de trabalho pela manifesta falta de informação e acesso a documentos que, diz, eram “arrancados à força”.


Como resposta, o PS diz que tudo isto tem como objectivo um ataque pessoal ao deputado Paulo Campos, ex-secretário de Estado do coiso de Sócrates. Se a hipocrisia e o ridículo matassem, morreria não apenas o grupo parlamentar do partido mas todo o PS.

O prejuízo, dizem os economistas, demorarão quarenta anos a serem pagos por todos nós e condicionarão a acção futura deste e de qualquer outro governo.

Sócrates, os seus amigos e todos os barões e patriarcas que o apoiaram, promoveram ou enalteceram, todos foram de uma frieza atroz. Espera-se um julgamento por crime de lesa-pátria.

Ainda os há neste país?


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Do eufemismo e da isenção política na comunicação social



Ontem, liguei a televisão, faltavam uns minutos para o telejornal da hora do almoço. Seleccionei, um pouco ao acaso, o canal 4. O Você na TVI chegava ao fim. Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira falavam com o economista Camilo Lourenço, conselheiro residente do programa em matéria de economia e fiscalidade para as perguntas que são enviadas pelos espectadores ao longo da semana.

Como Camilo Lourenço é alguém cuja inteligência e frontalidade aprecio (previu muito antecipadamente as consequências do que foi a acção de José Sócrates e do governo PS, por exemplo), fiquei-me a ouvir os últimos instantes da conversa, que não sei a que assunto específico se referia mas que acabou por ter assim o seu epílogo:


Goucha (dirigindo-se a Camilo Lourenço) — Olha lá, ontem a Moody’s melhorou o rating de Portugal, não foi?

Camilo Lourenço (sorrindo) — Foi, foi…

Goucha — Mas isso quase passou despercebido na Comunicação Social…

Camilo Lourenço (continuando a sorrir) — Pois foi, pois foi…

Goucha — Mas porque é que achas que não se falou mais disso…?

Camilo Lourenço (ainda a sorrir) — Sabes, a desgraça vende mais…


Camilo Lourenço é um homem frontal mas educado. E, como a maioria dos portugueses, tem o emprego em risco.

MIRADOURO



Nicolau Saião, Os idiotas úteis

OS IDIOTAS ÚTEIS


   Por vezes é quase comovente ler nos periódicos, ou nos espaços interactivos, certos textos de conspícuos comentadores, em geral imbuídos de uma filosofia de vida que se aproxima da candura de espírito. Ou, dizendo de outra forma mais carinhosa, da glamorosa ingenuidade que ostentam como aqueles velhos “leões das salas”, os quais, perdida a frescura da mocidade, substituem a musculatura outrora tersa por uma elegância conseguida nas melhores alfaiatarias.

   Muitos deles, para mostrarem que são democratas, que são isentos ou qualquer outra inanidade que lhes abrilhanta o bestunto, perdem laudas a analisar as “motivações” desta ou daquela figura grada dos entrepostos comunistas, com soma de pormenores que esquecem, ou fingem que esquecem, que um militante comunista, seja de base ou dirigente, é antes de tudo uma função. Basta ter-se lido e ter-se olhado com olhos de ver o comportamento das internacionais marxianas e quem as compõe e tem composto, para se perceber isto: o que os move, antes ou depois de tudo, é deitarem abaixo o que não é deles, feito por eles ou por eles controlado.

   Um comunista, seja ele escritor, cantor, pintor, médico ou arquitecto, simples lojista ou na orla dos argentários ou empresários de sucesso, operário ou colarinho branco, é primeiramente e acima de tudo um militante. Ou seja, um ser do partidão, o que poderá variar em grau mas nunca em base.

    Prontos para tudo, não perderam de vista, não perdem e nunca perderão a palavra de ordem dos seus chefes presentes ou desaparecidos: subverter a sociedade a que chamam burguesa, derribá-la e destroçá-la, se possível por meios democráticos, se não o for - de qualquer maneira que o seja.

   E além disso, há também os idiotas úteis.

                                         ***

   Certa noite durante uma recepção no Kremlin dos tempos já distantes de Josep Stalin, este notou, algo divertido, que Leonid Afanassiev olhava, pasmado, a peroração a que se entregava numa roda de aparatchikis o tristemente célebre Andrei Jdanov, comissário-mor para os Assuntos Culturais.

   Entregando-lhe o copo de vodka que tirara da bandeja de um criado, Stalin disse para o seu interlocutor com a sua proverbial bonomia e cinismo requintados: "Tens razão, camarada, Jdanov é um idiota... Mas é um idiota útil!"

   A expressão pegou e fez carreira, nomeadamente quando estavam no poleiro os asseclas do chamado Paizinho ou os que, não o sendo, têm o mesmo perfil mental. É hoje uma expressão clássica. Mas que vêm a ser de facto os idiotas úteis?

   São os auxiliares ingénuos, ou cavilosamente oportunistas, daqueles que dominam os lugares e as consciências. Aquilo a que se chama, grosso modo, os lacaios do partidão – seja ele mais de esquerda ou mais tolerante em aparencia, às cores ou a preto e branco.

  Geralmente pensadores falhados, intelectuais a meio-pano, publicistas de trazer por casa, cientistas de tranglomango, funcionários de perna quebrada, os idiotas úteis servem a estratégia da formação política que lhes é cara, ora por interesse próprio ora por não perceberem até que ponto esta se serve - frequentemente com sobranceria - dos seus relativos talentos. Por vezes nem pertencem ao sector indefectível do partidão. Pensam, contudo, que o podem ultrapassar em argúcia, principalmente porque o seu passado é cheio de altos e baixos camuflados, de curvas sinuosas e arabescos bem sucedidos, de pequenas vilanias. De falcatruas interiores.

  Os idiotas úteis são extremamente perigosos, porque nem têm a “grandeza” do militante fanático, directo posto que destrambelhado, sincero apesar de eventualmente crápula. Esta classe de gente é em geral um esquisitíssimo manajeiro de salão.

  Mas o mal que fazem às regiões e aos países!

  O que vale é que a sua estatura diminui com o passar do tempo, reduz-se como os sabonetes muito usados. Social e mentalmente despudorados, aos idiotas úteis resta pouco espaço de manobra, dado que mais tarde ou mais cedo deixam de servir aos que os utilizam.

  Talvez por isso, numa antevisão profética o grande Dante Allighieri, na “Divina Comédia”, colocava estes pequenos oportunistas no círculo infernal mais desolador - o lugar reservado aos que da grande aventura da vida só sabem extrair baixeza moral, mediocridade pomposa e esperteza saloia.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Da relva que muitos querem que a gente coma


Encontrei aqui há pouco este comentário, o qual, por me identificar com o que nele é dito (embora as coisas vão ainda bastante mais fundo), transcrevo integralmente:

A sra. qualquer-coisa do Público, pessoa de suspeitas ligações a uma facção política, meteu-se na guerra de poderes entre a Impresa, do inefável dr. Balsemão, e a Ongoing, onde milita o arrogante dr. José Eduardo Moniz. Talvez porque a sua facção se tenha alinhado com uma das partes.

O dr. Relvas, entretanto, tem meio país à perna: o pessoal da RTP, por cuja reforma é responsável; as autarquias, que  querem mais dinheiro (e cala-te boca); a parte ressabiada das velharias do PSD; e até o dr. Daniel Oliveira que afirma que o dr. Relvas manda nos jornais todos, embora todos os dias todos os jornais lhe malhem.

Eu diria, como, noutro dia, o Herman que os portugueses não gostam de quem aparece muito e como o dr. Relvas está constantemente a aparecer... E meio país detesta que ele apareça, porque considera o homem como a sua desgraça. Ele bem que se fartou de dizer que não ao dr. Passos Coelho, que não queria ir para o governo, mas o outro insistiu e ele, a esta hora, já deve estar assim para o arrependido, mas também sabe que se se demitir dá assim uma espécie de ximbalau no primeiro-ministro, por isso...

Eu não tenho opinião formada sobre a qualidade política do dr. Relvas, acho que, até agora, não lhe vi nada de especialmente digno de registo, embora o ouça falar das ideias que tem sobre o que já fez ou tenciona fazer. Umas são interessantes, outras nem por isso, de outras não partilho. Mas enfim, tem ideias, o que já não é nada mau. Coisa de que os portugueses, em geral, também não gostam. Tenha-se em conta a popular expressão "não te ponhas p'raí com ideias...!".

Há só uma coisa que eu achei piada no dr. Relvas: foi ter posto de imediato à disposição o material escrito trocado entre ele a jornalista, enviando-o mesmo ele próprio, exigido o inquérito e deslocar-se pessoalmente à ERC para testemunhar. Pode ser só fachada, mas procedeu como qualquer político de um país democrático à séria faria. Não foi como o outro, o dr. Ricardo Rodrigues, que roubou o gravador ao jornalista e continua impávido na AR e com a compreensão publicamente expressa do patriarca da II República, o venerando dr. Soares.

Não tenho, pelo que ficou atrás, nada a dizer sobre este  caso, nem a favor nem contra. Mas uma coisa é certa: não sou suficientemente ingénuo para tratar de um episódio de guerra entre empresas, asquerosamente disfarçada de problema de liberdade de imprensa, como ambas as empresas e os seus apoios políticos querem que ele seja para melhor disfarçarem os seus interesses de que todos seremos vítimas. Lixado, ainda vá, que remédio!; papalvo, não!

Maoismo na GNR



Seria interessante saber-se se a GNR tem noção que esta operação, como outras pejada de politicamente correcto, tresanda a maoismo.

Este tipo de disparates que a GNR recorrentemente exercita, por vezes encabeçados pelas próprias chefias, são exactamente uma variante do maoismo levado a cabo no período da revolução cultural em que os pais eram desautorizados ao extremo pelos filhos, portadores da verdade total, pura e final, e colocados, explicitamente, em menoridade face a eles.

É de supor que este tipo de gracinhas levadas a cabo por subalternos da GNR em relação aos seus superiores não seja encarada com a mesma bonomia.

Já não bastava o eduquês, as experiências porreiraço-pedagógicas da cáfila que anos a fio tem empestado o Ministério da Educação, tropeça-se, regularmente, neste tipo de absurdos levadas a cabo pela GNR.

Que espera a GNR deste tipo de desautorização implícita da autoridade dos pais e adultos? Que espera a GNR com este tipo de acções que se estendem, via TVs, à maioria dos lares de Portugal? Abardinar ainda mais a já tão posta em causa autoridade dos pais? Será necessário 'voluntariar' crianças para ir aos comandos da GNR perguntar se acham normal este tipo de ataque à autoridade dos adultos?

Que pretende a GNR? Pretende que as famílias passem a entregar os filhos à GNR para que ela os eduque, ou que os envie para que eles eduquem a GNR?

Comentadores

Aqui: 

Ouvir hoje comentadores falarem sobre o que se passa na "europa" é extraordinário porque a cada frase dizem algo e o seu contrário.

À medida que o projecto "europa" se foi sedimentando foram-se somando os vectores políticos dos seus componentes e a soma foi sendo zero. A inviabilidade económica do projecto fundamentada numa regulamentação asfixiante que ninguém pediu nem controla aliada a um voluntarismo de cariz claramente socialista de gente bem pensante que supõe ter o dom de decidir de forma correcta não só sobre a vida dos "seus" mas do restante mundo, trouxe o espectro da URSS a toda a "comunidade" e redundou, um pouco tardiamente, no afloramento da falência das respectivas economias. Umas já no buraco negro, outras na sua espiral, outras lutando para lá não entrar, enfim, nenhuma resta sadia.

A inaptidão dos mais clássicos comentadores políticos prende-se à sua permanente convivência tornada conivência com o absurdo dado como coisa natural. Medina carreira é uma das muito poucas honrosas excepções.

Tendo vindo a fazer o seu caminho, talvez para ele próprio inesperado, Medina carreira tem revelado uma clarividência notável corrigindo o seu próprio tiro, a devido tempo e em campos que menos dominava.

ÀS VEZES PARTEM CARTAS…


  Como Miguel Torga e D. António Ferreira Gomes diziam impressamente em epístolas notáveis que endereçaram ao Povo português e a outras entidades, a faculdade de nos contestarmos, exercendo opinião ainda que vivaz e crítica, é um índice de cidadania e de real liberdade.
  O que distingue uma pessoa de outra é o pensamento autónomo, que se conjuga com a faculdade de aceitar ou de rejeitar. E ambas, dessa forma legítima, não estabelecem contramão - antes concorrem para um aperfeiçoamento do território que lhes é comum: a vida em sociedade civilizada.
 O problema fundacional é que muitos não a desejam, não a acalentam, não a procuram sustentar e não a apreciam. Por outras palavras: porque "valores" (na verdade interesses espúrios) mais baixos se alevantam - digamos desta maneira a rebours da velha frase canónica.
  Nunca como hoje o mundo necessitou tanto da poesia que vem da dignidade e da dignidade que vem da poesia, como referiu num saudoso bilhete desses tempos Agostinho da Silva.
 O que implica a dignidade de discordarmos e de discordarem de nós.
 E o corolário creio que será este: se isso se perde, se mancha ou se trespassa... então está-se a caminho do princípio do fim.

A este propósito enviei há dias este email que achei por bem enviar também por aqui.

Caros confrades da revista SIBILA*

 Tomei conhecimento, por leitura recente, da polémica que vem acontecendo a propósito de um texto sobre Augusto de Campos (creio que digo bem) da autoria de Luis Dolhnikoff e que despertou situações bravas...
 Não vou referir-me ao cerne da questão, pois só posso aquilatar pela rama.
 Mas gostaria de dizer que essas polémicas, no fundo, são produtoras de luz - uma vez que purgam os maus humores do que esteja eventualmente errado, tendo em vista a existencia salubre.
 Muito diferente é o que se passa em Portugal, onde um espesso manto de silêncio vem cobrindo tudo. Os donos da aparelhagem literária/literata conseguiram criar por aqui um simulacro de "serenidade mansa e doce", em que não há sobressaltos nem pendências. E os que acaso se atrevem a tentar dizer que algo está mal, que alguns reis vão nus, são de pronto silenciados para que não causem danos eventuais à "panelinha" a que aludiu com perspicácia Eça de Queirós.
  Aí haverá coisas pouco amáveis. No entanto, aqui, caminha-se a passos largos para um indubitável cripto-fascismo.  
  Com o selo da unanimidade e da falsa cortesia!

  Saudações do

                                         nicolau saião

*(“SIBILA - revista de Cultura”, é editada no Brasil e nos Estados Unidos e dirigida por um núcleo de autores e professores tendo no lugar de topo o juiz de Direito e escritor Régis Bonvicino).


O cartel dos tesos


Tenho estado a ver, a bochechos porque a pachorra tem limites, o programa Prós & Contras da RTP 1, coisa de siderar. Das 4 pessoas presentes, 3 vivem no planeta dos gambozinos e apenas uma, Cantiga Esteves, no mundo real.

Em sapiências avulsas, a "europa" manietou-se agarrada à ideia que bastaria pensar que seria o cérebro e motor do mundo para que o passasse a ser. De arrogância em arrogância depredou toda a sua iniciativa interna anulando as vantagens relativas que cada região e cada actividade teria em relação às outras, ignorou o efeito que essas "regulações" teriam relativamente a concorrentes externos, prometeu mundos e fundos aos seus cidadãos sempre negando-lhes a participação na decisão nos destinos da coisa comum, conluiou-se na dissimulação do que estava a correr em contrário ao enunciado, prometeu que as arestas ainda a limar se resolveriam com mais "europa" e gastou o que tinha e o que não tinha endividando-se até que os credores começassem a torcer o nariz. Todos fizeram o mesmo tendo alguns sido particularmente militantes em matéria de solidariedade do outro para consigo esquecendo que esse gesto pressuporia, mais tarde ou mais cedo, reciprocidade em atendimento ao esforço alheio.

Hoje, no referido programa e à excepção de Cantiga Esteves, todos continuam com a mesma estúpida conversa que nos trouxe à falência, não tendo qualquer ideia para além das habituais vacuidades. Todos reclamam da Alemanha a chave para a resolução do problema não percebendo que tal exigência constitui um atestado de irrelevância política e económica dos turbulentos. Que idoneidade tem o cartel dos tesos para arrogantemente reclamar que a Alemanha tome as decisões que eles entendem? Que tomem conta de si e não enfadem quem de si próprio cuida muito mais competentemente.

Do princípio da democracia espiritual segundo a teologia cristã


Hieronymus Bosch, Cristo carregando a cruz

António Justo, que, para quem não saiba, é também teólogo cristão, enviou-me este seu novo texto, por cujo tema deveria ter sido publicado no sábado ou no domingo. Como estive quatro dias sem ir ver a caixa de email, só hoje o deixo aqui.



PENTECOSTES – O PRINCÍPIO DA DEMOCRACIA ESPIRITUAL
Liberdade e Inovação são Qualidades do Espírito


 No Natal Deus desce à terra, torna-se carne/terra. Depois vem a Páscoa a apontar para a vida como via-sacra em que a Cruz se torna símbolo da existência que é feita de morte e de ressurreição. No Pentecostes completa-se o ciclo vital em que a natureza através da pessoa humana ergue os olhos da terra para o alto, para o céu, no reconhecimento de que o Homem é feito de terra e céu. Proximidade e distância são partes integrantes da pessoa. As fronteiras do homem e do seu biótopo não se deixam definir pelo horizonte que o nosso olhar permite. Há o longe, o distante que chama e tudo move para lá dos nossos limites sensoriais. O longe só é perceptível aos olhos do coração.

O Pentecostes inicia a capacidade de respirar um ar invisível que tudo suporta. A experiência da luz (línguas de fogo que vêm do alto) afasta o medo e possibilita a aventura criativa e criadora. Cada ser fica cheio de luz, grávido de Deus. O problema é a crusta, o limite (identificador) que o envolve e leva a afirmar o limite contra o universal integrador. O Paráclito é a essência comum ao particular e ao todo; ele é o nós do eu e do tu, à imagem do eu (Pai) e do tu (Filho JC) que, em relação íntima, cria o terceiro, o nós (Espírito). Por isso a celebração do Pentecostes anda ligada à festa da Trindade. Ireneu de Lyon condensou a Trindade na frase seguinte: «O Pai é complacente e ordena, o filho obra e forma, o Espírito nutre e incrementa». Segundo a filosofia cristã o ser humano está chamado a ser parceiro divino da criação à imagem do JC na filiação divina. A relação criador-criatura faz do cristianismo um monoteísmo mitigado.

Assim, não chega correr com os outros; cristianismo é mais que compromisso, é ser margem e rio ao mesmo tempo, espírito e matéria em reconciliação. Na metáfora da realidade que a natureza oferece, no ciclo da água que na sua essência inclui, ao mesmo tempo, os estados sólido, líquido e gasoso, pode pressentir-se a essência do nosso ser: mudança e permanência, espírito e matéria, igual e diferente. O mesmo somos nós a nível de indivíduo e de eclésia. O Paráclito é um desafio à solidariedade e conciliação dos elementos, à capacidade de adaptação contínua ao novo, porque só assim permanecemos nós, não podendo ser reduzidos a mero leito onde a vida passa.

O espírito tem uma relação céptica perante o leito mas sem ele faltar-lhe-ia o seu fundamento para poder ser fluxo. A existência é feita de perguntas e respostas em contínua interacção. Parar numa pergunta ou numa resposta seria negar a vida; por isso o Espírito fala em várias línguas, também a tua e a minha. O espírito flui onde e como quer. Importante é a abertura e não a incrustação de vida em preconceitos teorias ou dogmas, como se a verdade e a realidade fosse apenas sólida. Se a afirmarmos como sólida ela é líquida e se a afirmarmos líquida ela é gasosa, sim porque a questão está na nossa visão de perspectiva que é selectiva e não inclusiva.

Pentecostes é também celebrado como o aniversário do nascimento da Igreja como comunidade com a missão de viver e levar a Boa Nova à humanidade e de a viver em comunhão com a natureza. Pentecostes vem do grego e significa o “quinquagésimo dia depois” da Páscoa; o Espírito germina na pessoa e na comunidade fazendo deles agentes com a capacidade de falar muitas línguas, a linguagem do amor que é percebida nas mais diversas paragens independentemente de raças e culturas.

Cinquenta dias após a “perda” do JC, a tristeza dos discípulos é compensada pela descoberta dele na pessoa e na comunidade na vivência do Espírito; agora a presença de Deus na Humanidade passa a ser cada pessoa, cada cristão que aja no espírito e consciência do JC que resume o espírito e a matéria.

A Comunidade eclesial é aberta a todos os povos (idiomas) não se impondo uma cultura sobre a outra sendo seu característico distintivo a ágape, a caritas, o amor. O que a torre de Babel dispersou antes, congrega agora o Paráclito envolvendo tudo no fogo do amor. O característico cristão é a relação e inter-relação pessoal expressa na relação do JC com a natureza-Pai e Espírito. Ao contrário doutras religiões, aqui, a norma é uma pessoa e não um livro e a ética não se reduz a uma subjugação, ao cumprimento de letras (leis) mas ao amor soberano que tudo diviniza. O ser humano na qualidade de filho de Deus pertence por natureza à família mais nobre, tornando anti-humana e ilegítima toda a prepotência, subserviência e opressão; estas constituiriam um atentado à dignidade humano-divina inerente a cada pessoa. Por isso, os ministérios públicos, as autoridades públicas, ministros, etc., deveriam exercer actividades de serviço às pessoas porque toda a dignidade vem e acaba nela em comunhão com o toso.

A festa do Pentecostes é celebrada em toda a Igreja desde o Concílio de Elvira do ano 305. Com a descida do Espírito Santo, o dia eterno do Pentecostes torna-se o domingo dos domingos, o sábado dos sábados em que a acção divina se manifesta e realiza no e com o povo no mundo. A participação no Espírito Santo confere o dom das línguas e os dons do espírito. O ciclo litúrgico quer apontar para a realidade profunda que é o mistério da vida que é toda ela relação.

Ultrapassa-se a visão grega da vida da relação de sujeito-objecto passando toda a relação humana-divina-natural a ser uma relação de sujeitos entre sujeitos; isto é passa-se duma  consciência de relação sujeito-objecto para uma relação sujeito-sujeito que tudo personaliza e dignifica. A verdade passa a ser um acontecer e não um mero constructo abstracto ou anónimo. Como no ciclo da vida, a palavra de Deus (o Verbo) está na origem da vida tal como o fruto, a flor, a árvore e se encontram já na semente.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Reinaldo Azevedo

A coisa aqui tá preta, mas ...

Qual austeridade e qual desemprego?

No Fiel Inimigo:
Em Portugal não há propriamente austeridade. Passa-se apenas que os credores deixaram de alimentar um país ineficiente, incapaz de compreender o mundo em que vive e de implementar as incontornáveis reformas.

Em Portugal o desemprego não aumentou exactamente. Tornou-se apenas impossível manter o país fornecido de dinheiro pedido emprestado, maná que já não alimenta a economia escondendo o desemprego.

O meu caso com o caso Relvas


Título deste texto de Alberto Gonçalves no DN, que transcrevo integralmente:


Os comentários às eventuais ameaças de Miguel Relvas a uma jornalista do Público são um perfeito retrato do país. Na semana passada, escrevi aqui que o papel, a ambição, o estilo e o respeito pelas regras democráticas do sr. Relvas lembram demasiado o eng. Sócrates. Num ápice, Estrela Serrano correu a acusar-me de "falácia", "desespero" e "desejo de proteger quem praticou a ameaça". Como de costume, Estrela Serrano não podia estar mais enganada.

Em primeiro lugar, porque as "provas" da comparativa inocência do eng. Sócrates que Estrela Serrano exibiu no seu blogue (vaievem.wordpress.com) constituem evidências bastante razoáveis da respectiva culpa. Em segundo lugar, porque ao contrário de Estrela Serrano nunca aceitei cargos de nomeação política e nem sequer convivo com políticos (uma tentação recorrente em jornalistas com aspas), pelo que não me desespero com eventuais abalos nas carreiras deles. Em terceiro lugar, porque atribuir-me instintos protectores face ao sr. Relvas, cuja relevância no actual governo desde o início me pareceu uma afronta à credibilidade do mesmo, é, no mínimo, um indício da distância que separa Estrela Serrano do discernimento.

Não censuro a senhora, que se limita a presumir em mim os hábitos dela e da pátria em geral. No fundo, o amor à liberdade de expressão que Estrela Serrano descobriu agora é aquele que lhe faltava quando os antecessores do sr. Relvas procuravam, e às vezes conseguiam, silenciar jornalistas. À época, acrescento entre parêntesis, Estrela Serrano pontificava na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), agremiação que, vá lá perceber-se, jamais encontrou vestígio de ilicitude na relação do governo de então com os media.

Estrela Serrano é muito portuguesa, e Portugal é um lugar onde as convicções derivam de simpatias partidárias, compadrio e arranjinhos à mesa do restaurante. De tão infantil, só a descrição da paisagem deprime: os que negavam os abusos do PS são os que hoje se indignam com os abusos do PSD; os que se indignavam com os abusos do PS são os que hoje negam os abusos do PSD. Contra toda a evidência e a favor de todo o compromisso, os apoiantes de uns perdoam-lhes o que condenavam noutros e os apoiantes dos outros indignam-se face ao que lhes era indiferente. Os primeiros perdem a razão que tinham. Os segundos não ganham razão nenhuma.

Gostaria, insisto, que Estrela Serrano não me julgasse pelos critérios que a orientam. Se digo que o presumível desvario do sr. Relvas não é inédito não pretendo dizer que o desvario é desculpável, mas que o indesculpável clima que o propiciou já vem de trás. O sr. Relvas faz o que quer na medida em que os seus parceiros de ofício sempre fizeram o que queriam. E o sr. Relvas sairá provavelmente impune na medida em que a impunidade tácita do ofício é regra da casa.

Se acontecer assim, é pena. Acho que, menos pelo episódio do Público do que pelo rústico enredo de espionagem que originou o episódio, o sr. Relvas não devia permanecer no governo. Acho que a direcção do diário em causa não devia ser selectiva na escolha das pressões que valentemente denuncia ou que estrategicamente esconde. Acho que o jornalismo que dorme com políticos não devia estranhar que os leitores fujam da promiscuidade. Acho que quem aguarda a sentença da absurda ERC devia esperar sentado. Acho que, em vez de alucinações, Estrela Serrano devia ter vergonha.

domingo, 27 de maio de 2012

Benaventismo-Rodriguismo

Os resultados de anos e anos de ensino socialista começam a surgir: vem ai uma catástrofe nos teste intermédios de matemática. É a ressaca do 'eduquês' das competências, do ensino centrado no aluno, do ensino inclusivo, da burocracia labirintica, da indisciplina galopante, do facilitismo, da perseguição e desautorização dos professores, dos planos disto e daquilo, dos projetos de fachada, do show-off, das montanhas de papel, da relação com a comunidade, das ações de formação em dança tibetana, dos coitadinhos dos alunos, dos pais a mandar na escola, dos psicólogos a mandar nas aulas,  de todos a mandarem nos professores e do direito ao sucesso
Alguém que peça contas à parelha Ana Benavente/Lurdes Rodrigues.

Os socialistas e a mania dos planos

Planos para crescimento económico
Plano estratégico do sector têxtil
Plano tecnológico da educação
Plane de grandes investimentos e infraestruturas
Plano estratégico nacional de turismo
Plano estratégico para a indústria de molde se ferramentas especiais
Programa de modernização do comércio
Programa de apoio aos investimentos na produção de energia
Programa de apoio à indústria
Plano de financiamento das SCUTS
Plano para o Oeste
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Václav Klaus: só mudanças fundamentais poderão retirar a Europa da crise em que está mergulhada

Via Espectador Interessado, Václav Klaus, um dos poucos que têm a perfeita noção do monstro que é hoje a "europa".

POR ENTRE AS ROSAS DE MAIO…



Nicolau Saião, Turba philosofarum

…certas coisas se perfilam. No entanto, se o espírito pode mais do que a carne como é referido no texto canónico, a verdade é que a carne também tem suas exigências – melhor dizendo pequenas perfídias se o cerne da questão é uma atravancante “febre dos fenos” que nos solapa as horas e a vivacidade.

  Creio que me entendem, tanto os que dela sofrem como os que estão isentos dessa pecha.

  Assim que a (des)dita me deixe mais solto, algumas cousas de valor aparecerão por aqui. Entre elas uma carta inédita de Mário Cesariny, cuidadosamente escolhida, com maldade (risos) de entre as várias dezenas que o autor de “Projectos de prémio Aldonso Ortigão” me foi fazendo chegar através dos anos. E que, a seu tempo, serão dadas em livro…assim os deuses não me quilhem.

   Para além disso teremos bloquinhos salubres sobre António Salvado, Gérard Calandre, Mateus Maria Guadalupe (ou seja, Agostinho da Silva), Floriano Martins, António Luís Moita, José Paulo Moreira da Fonseca, Emílio Adolpho Westphalen, Eugénio Grannell e outros mais, não esquecendo é claro coisas lógico/absurdas, mas indispensáveis, sobre a abracadabrante circunstância nacional e o que lhe está em torno, ou seja o mundo por extenso…

  Hasta la vista, folks!                                                        

Onde estamos?


[Cumprimentos com chapelada a quem já cá está]

Se a democracia em Portugal fosse razoavelmente saudável já todos os partidos teria desaparecido e sido substituídos.

Não vale a pena perder muito tempo com os partidos mais à esquerda (BE e PCP+PEV) a não ser pelo facto de terem ficado parados no tempo, incapazes de tirarem as ilações que se impunham perante o monótono falhanço daquilo que defendiam e … desaparecer. Por aí continuam, incapazes de perceber as pessoas e o mundo, com as mesmas manias e o mesmo ódio tribal. Justifica-se pormenorizar que uma das facetas do ódio cultivado no PCP tem como hospedeiro a democracia e continua evidenciar-se diariamente, por exemplo, pelas intervenções do seu alter-ego, o PEV, partido fantoche cujo real valor nunca foi evidenciado e convenientemente aferido pelo simples facto de nunca se ter apresentado, ao longo de muitos anos, sozinho, a eleições.

Se perante o anunciado falhanço das sociais-democracias a sobrevivência do PS já era de dúbia razoabilidade, o consulado de José Sócrates deixou a organização ao nível do BE. A irresponsabilidade e deriva nacional-socialista com pitadas de internacionalismo relativo a uma “europa” com idênticas propensões, levaram Portugal à margem do precipício de estado-falhado.

O PSD é coisa tipicamente portuguesa: varia conforme o capataz. Não parecendo conseguir estabelecer uma conduta própria face ao mundo, é frequente pasto de guerrilhas internas de bradar aos céus.Não estando significativamente amarrado a ideologias (e menos às caducadas) será quem melhor se relaciona com o país real independentemente do país raramente se entender com ele. Portugal é o que é e o que tem que ser tem muita força.

O CDS, outra bizarria, foi ao ponto de pensar que a metamorfose do seu nome teria sensível significado. Tendo tentado a reciclagem de CDP para PP, acabou entalado em CDP-PP. É um PSD um pouco menos totó mas incapaz de se libertar das teias de aranha do social. Caracteriza-se ainda por ser pasto de lutas a luva-branca entre figurões.

E então em que ficamos? Mal? Temporariamente não muito mal porque as atribulações do acaso levaram para S. Bento um primeiro-ministro com dois dedos de testa, claramente acima do habitual. E dever-se-á encarar o facto como uma mais valia? Sim, mas não se sabe bem que utilidade terá porque …

Entretanto, a febre do internacionalismo proletário (social-democrata em correcto politiquês) cravou na “europa” uma democracia suspensa nuns quantos figurões eleitos democraticamente e que, auto-instituídos em zombies da coisa comum com poder político para nomear outras tantas aventesmas, poluíram as instituições que entretanto politicamente apenas se auto-representam. O mostrengo burocrático daqui resultante tomou o freio nos dentes, tem vida própria e, apesar de ditar legislação e regulamentação sobre todas as soberanias tornadas suas satélites e lenha do ideal centralizador, parece incapaz de ser democraticamente abatido.

Portugal tem, em resumo, um primeiro-ministro que apesar de menos tótó que os antecessores é, pela força das circunstâncias, ministro primeiro apenas no mundo do diz-que-disse.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Refaeli

A top model israelita Bar Refaeli é a mulher mais sexy do mundo, segundo a revista americana Maxime.

Françabonds

Umas Françabonds é que era: Portugal e outros que tais endividavam-se e a França assumia o risco. Se o nome não agradar, podiam chamar-se Parisbonds, sempre era mais fino, ou Hollandebonds, que era mais fofinho e solidário.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Liberdade, igualdade, normalidade



Alberto Gonçalves, a 13 de Maio, no DN:

Enquanto obedece à tradição local e enche a boca de fanfarra nacionalista para falar de "la France", François Hollande gosta de se proclamar "um homem normal". A imprensa, por lá e por cá, gostou do auto-retrato e, decerto para evitar canseiras, desatou a usá-lo com abundância nas manchetes da vitória: "uma presidência 'normal'"; "um senhor 'normal' no Eliseu"; "a vitória de um homem 'normal'", etc. O adjectivo define menos o sr. Hollande do que a concepção que o sr. Hollande e, pelos vistos, boa parte dos jornalistas têm da normalidade.

Basta espreitar o currículo do sujeito. Em 1974, ainda estudante universitário, o sr. Hollande voluntariou-se para a campanha de François Mitterrand. Mal se licenciou, conseguiu emprego numa comissão governamental. Aos 25 anos, inscreveu-se no Partido Socialista. Aos 27, concorreu ao Parlamento nacional. Não ganhou, mas viu o esforço recompensado com um cargo de conselheiro do então recém-eleito Mitterrand. Em 1983 foi vereador de uma cidadezinha do interior e, em 1988, chegou enfim a deputado, posto que perdeu em 1993 e recuperou em 1997. Pelo meio, divertiu-se em tricas partidárias e Lionel Jospin escolheu-o para porta-voz do PS. Nem de propósito, em 1997 tornou-se líder do PS, honra que lhe caberia por mais de uma década. Em 2001, pairou pela autarquia de Tulle. Desde 2008, o sr. Hollande prosseguiu o tirocínio numa presidência regional. Agora, é presidente da República.

Um homem normal? Normalíssimo, se a palavra definir as criaturas que passam a vida inteira sem, digamos, trabalhar. Esta linha de pensamento olha de viés os que algum dia arriscaram colocar o pé fora da política e experimentaram uma profissão a sério. O sector privado é coisa de excêntricos e, convenhamos, de excêntricos pouco confiáveis. Na França e aqui, o Estado é a norma.

As ideias do sr. Hollande também são normais. Naquilo que nos toca, conheço-lhe uma: a austeridade é má. E não custa nada encontrar gente, igualmente normal, que partilha a opinião. Só em Portugal, Francisco Louçã reclama o fim da austeridade, Mário Soares jura que a austeridade não faz sentido e António José Seguro, que naturalmente tomou o triunfo do sr. Hollande a título pessoal, acha a austeridade excessiva e dispõe-se a sair à rua em protesto.

É inacreditável como é que ninguém se lembrou disto antes. Afinal, a solução não passa por apertos que nos atormentam a bolsa e a existência: passa, obviamente, pelo crescimento, definição lata para a estratégia que consiste em gastar acima das possibilidades, viver de prometidos mundos e fundos, contemplar a descida das promessas à Terra, acumular dívida, rebentar com estrondo e atribuir a culpa de tudo às agências de rating, à sra. Merkel e, grosso modo, ao capitalismo selvagem.

Para surpresa de uns poucos (muito poucos), a solução dos problemas implica o regresso ao estilo descontraído que alimentou os problemas. E se a solução talvez não seja o sr. Hollande, entretanto já empenhado em desmentir os delírios de campanha e prevenir os franceses para as maçadas que os esperam, é garantido que a solução virá, no mínimo espiritualmente, de França. Chama-se José Sócrates e é, para sermos educados, outro homem normal.

Do indignão fodilhado ou Do engate com cheirinho a moita



Com mais de uma semana de atraso e na sequência da última parte do texto "O rendez-vous do troglodita" que aqui coloquei há pouco, não resisto a transcrever integralmente a notícia publicada no JN, cuja referência encontrei, com o título abaixo, no 31 da Armada.  Reservando-me comentários que possam ferir sensibilidades mais apuradas.


Como posso engatar ou ser engatado? E ultrapassada essa questão: como ter uma aventura sexual num espaço público sem ser visto? A estas e outras questões promete dar respostas o primeiro workshop sobre engate e sexo em Portugal, esta segunda-feira à noite, em Lisboa, inserido no movimento 'Primavera Global'.

"Indignados" no Parque Eduardo VII

"Fazer cidades democráticas também é preservar os espaços de engate e de sexo em locais públicos, mas discretos. E você, quer vir hoje ao parque?". O convite partiu de uma filósofa, Anabela Rocha, e de um sociólogo, Fernando André Rosa, do coletivo 'Panteras Rosa', que decidiram associar ao protesto global que decorre em 250 cidades mundiais - sete das quais portuguesas - tal formação.

A dupla promete fazer desfilar os formandos, a partir das 21 horas e gratuitamente, pelas zonas de circulação e arborizadas do Parque Eduardo VII, em Lisboa, habitualmente usadas para aventuras sexuais. E, ali, entre um arbusto e outro ou atrás de uma árvore, fora da visibilidade pública, ensinar não só técnicas de abordagem e prática sexual em locais públicos, como alertar para casos de violência que tem ocorrido sobre os adeptos destas práticas.

Segundo Anabela Rocha, este singular workshop surge como forma de preservar a história deste local como "zona de excelência de engate e de fantasias eróticas, especificamente urbanas, de interação com um estranho".

"É necessário refundar as cidades numa perspetiva mais democrática. Este é o nosso contributo nesse sentido. Há aqui uma herança 'queer' (identidades sexuais não normativas) que é necessário não ficar estigmatizada mas antes obter visibilidade e impor-se no mapa da cidade", refere.

"A prática de engate 'queer' nos parques favorece as interações sem necessidade de consumir, sem barreiras linguísticas ou de classe", acrescenta.

"Occupar o engate" - assim se chama a formação - parte junto à acampada dos elementos que ali se fixaram no sábado à tarde, após a marcha pela Avenida da Liberdade, contra as medidas de austeridade.
Além de engatados e quem já engatou, o workshop conta ainda com o contributo do geógrafo Paulo Jorge Vieira, cuja área de investigação incide nesta temática.