segunda-feira, 24 de junho de 2013

BRASIL: TUDO FALSO, TUDO FARSA

 
 
Publiquei o texto abaixo em 21-12-2011 (no site Sibila). Acredito que, dois anos antes do "surpreendente" terremoto anual, ele explica, premonitoriamente, algumas coisas.



O Brasil é um BRIC. Ou seja, faz parte do “luminoso” e ominoso grupo dos superemergentes, ao lado, literalmente (ou literamente), de Rússia, Índia e China. Portanto, também é um bric, um tijolo que arrima o futuro do mundo... Lula pode ter perdido a voz e a barba, mas o Brasil não tinha perdido a pose de país da “nova classe média”,que compra feliz e febril nos crediários sem fim ofertados a toda a imensa multidão de novos e velhos otários. Qual o problema de pagar por uma Mercedes e levar um Gol, se antes não se conseguia sequer ter um Fusca? Mas acabou.
As compras podem continuar febris, porém o comprador não é feliz. Nunca foi. E isto não é uma opinião.
A organização
Legatum Institute, que pesquisa o Legatum Prosperity Index, índice de prosperidade relativa entre os países de todo o mundo, acaba de publicar a sua pesquisa de 2011. A lista dos primeiros dez não surpreende: Noruega, Dinamarca, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Canadá, Finlândia, Suíça, Holanda e EUA. O que talvez surpreenda sejam as variáveis envolvidas: economia, oportunidade, governo, educação, saúde, segurança, liberdade pessoal e capital social. E tudo isso se traduz no grau de “life satisfaction”, satisfação com a vida, ou sensação de bem-estar, de cada população – o que o Prosperity Index, enfim, mensura. Ou seja, os noruegueses, aqueles pálidos nórdicos frios, são os mais satisfeitos da vida. E os americanos não fazem nada feio, apesar das cassandras canhotas que vivem a decretar e redecretar sua infelicidade. E onde fica, afinal, o Brasil varonil com seu céu de anil e seu alegre povo mestiço, sambista, futebolista, carnavalesco e tropical? Em um triste, insatisfeito e insatisfatório 42º lugar...

Economia: a do Brasilzão é uma das maiores do mundo, mas isso não muda nossos preços estratosféricos, nossos impostos insanos, nossos juros obscenos, nosso capitalismo primitivo e parasita etc.;
Oportunidade: não é muito difícil imaginar que a vida de um norueguês médio oferece oportunidades de todos os tipos maiores e melhores que as de um brasileiro médio em sua mediania provinciana;
Governo: a ineficiência e a corrupção do Estado brasileiro, em todos os níveis, estão além da capacidade de imaginação do norueguês menos satisfeito;
Educação: ocioso comentar;
Saúde: idem;
Segurança: idem idem;
Liberdade pessoal: qual a verdadeira liberdade de quem vive preso pela necessidade de enfrentar dia a dia pequenos, médios e grandes problemas evitáveis que a inépcia, a incúria e a ignorância nacionais oferecem em doses mais do que satisfatórias?;
Capital social: em meio à deseducação, à insegurança, ao desperdício etc., muito pouco resta. Resta concluir que o mito do povo alegre e brejeiro não passa de renomada besteira.
 
Trata-se, afinal, tão-somente de aparência. No Brasil se sorri e se ri muito fácil. Também se abraça muito facilmente. Tudo falso, tudo farsa. O sorriso é a arma maior contra o “horror à distância” (Sérgio Buarque) que caracteriza a brutalidade e a caipirice social do bravo povo brasílico. O abraço idem. Encurtada a distância, nem se apanha nem se acanha.
O fácil sorriso dos brasileiros é uma promessa facial de uma felicidade não dificultosa, mais do que a tradução muscular de uma satisfação conquistada. E tem tanto valor quanto qualquer promessa feita com um sorriso fácil. A seriedade norueguesa é, na verdade, mais verdadeiramente alegre. Apesar do samba, dos bambas, dos bambambans e de todos os balangandãs. Ou por causa deles.

7 comentários:

Manuel Graça disse...

:)

O que é um Gol, e um Fusca?

Luís Dolhnikoff disse...

Carros "populares" (nas características, não no preço) da Volkswagen. O Gol é o precursor do Golf. Não sei se este tem aí o mesmo nome. O "Fusca" é o "besouro", o carro original da marca.

Ab, L

Manuel Graça disse...

:)

Por aqui há o Golf. Ao besouro chamamos (chamávamos, já são muito raros) o carocha.

Tive um carocha que ficou podre há uns 20 anos. Os carochas deixaram de ser vendidos na europa há muito tempo.

Manuel Graça disse...

(estive à procura no Google por VW besouro)

José Gonsalo disse...

"O fácil sorriso dos brasileiros é uma promessa facial de uma felicidade não dificultosa, mais do que a tradução muscular de uma satisfação conquistada. E tem tanto valor quanto qualquer promessa feita com um sorriso fácil. A seriedade norueguesa é, na verdade, mais verdadeiramente alegre."

Acredito em si no que diz respeito aos brasileiros - é essa, aliás, a intuição que tenho quando falo com os que por cá andam. E não faltam brasileiros por aqui: na casa ao lado da minha houve brasileiros por quatro anos , fora aqueles que a gente apanha por todo o lado, do supermercado ao trabalho, e como amigos de familiares.
Mas não acredite na felicidade norueguesa e outras do mesmo tipo, meu caro. Uma coisa é a resposta para o inquérito, outra aquilo em que o consciente quer acreditar à força ser felicidade mas que o inconsciente rejeita violentamente, outra ainda aquilo em que alguém se centra como horizonte de felicidade. Tive ocasião de verificar in loco, anos atrás, a "sã felicidade" sueca e a sensação foi de medo. Por debaixo da paz, da serenidade e da alegria comedida, agitam-se os piores impulsos soturnamente reprimidos, chegam a aflorar ao olhar, quando nos olham.
É claro que eu, assim como os brasileiros que lá encontrei a viver há anos, sentem momentaneamente um alívio que não encontram nem em Porto Cale nem em Terras de Santa Cruz e aspiram ao clima de desafogo e de legalidade que sentem logo à chegada. Mas ao fim de algum tempo... Só lá se manteriam ou se mantêm enquanto recobram o fôlego ou porque deixam de conseguir melhor vida noutras paragens.

José Gonsalo disse...

A social-democracia sueca e, em geral, nórdica, vive também da propaganda para o exterior. O povo ordeiro, civilizado, culto... Precisei de perguntar a cinco suecos onde ficava o Museu de Arte Moderna, em Estocolmo (que ficava, afinal, apenas uns 300m de onde eu estava) para que o quinto mo dissesse, embora acrescentasse que nunca lá tinha ido. A cena repetiu-se noutras ocasiões. E as entradas eram, de facto, em conta, mesmo para um português sem poder económico...

Manuel Graça disse...

A propósito de gente ... feliz (sem pretender que seja significativo):

http://youtu.be/PWVe0JbMh6c